Jornalistas-pesquisadores discutem papel dos sindicatos e ABI

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Projeto com trabalhadores de todo o país visa enfrentar a crise da profissão

A popularização das tecnologias da comunicação, a desarticulação da categoria e o enfraquecimento dos sindicatos e entidades de classe levaram a um cenário de desregulamentação e precarização da profissão que parece irreversível. Os sindicatos não conseguem representar a categoria e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) perdeu seu papel de entidade garantidora da democracia, como foi no passado, com a OAB e a CNBB.

No dia 19 de outubro, os jornalistas-pesquisadores do Projeto de Enfrentamento da Crise da Profissão de Jornalista (Enprojor) debateram essa questão. O grupo é aberto à participação de colegas de todo o Brasil.

“Por que um colega vai tirar um valor mensal da sua suada e minguada renda para contribuir com o sindicato ou com a ABI?”, pergunta Marcelo Auler, conselheiro da entidade sediada na capital fluminense e jornalista do Brasil 247. Segundo ele, essas entidades fizeram, em outros tempos, a luta política, não só pela liberdade de imprensa, mas por melhores situações para os profissionais.

Auler admite que atualmente isso não ocorre. “Os jornalistas se tornaram mais individualistas. Querem saber mais de si próprios que da coletividade. Mas agora vivemos algum movimento de aglutinação, pela ameaça de Bolsonaro, que nos atacava diretamente e muito intensamente. As pessoas começaram a ver a necessidade de ter uma entidade representativa mais forte”.

Fernanda Viseu relatou a sua experiência de ter sido uma das fundadoras, em 2016, do Coletivo de Jornalistas de Macaé e Região. “Nossa intenção era reunir a categoria para defender as causas dos profissionais do interior. Não nos sentíamos representados pelo sindicato”. De acordo com Fernanda, uma das metas do Coletivo é contribuir para que o sindicato reassuma seu papel de defender os direitos dos trabalhadores.

Renovar os sindicatos

Há três anos, Fernanda tornou-se diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, do qual é a atual vice-presidente. “Eu entendo a insatisfação dos jornalistas do interior com a atuação do sindicato e que a entidade deve fazer mais pela categoria. Mesmo assim, os colegas precisam se aproximar do sindicato porque é ele que representa e negocia pelos trabalhadores”, propôs ela.

A história de Roberta Barcelos é bastante representativa de muitas e muitos na área. Trabalhando em atividades administrativas como prestadora de serviço na Petrobras em Macaé, já atuou diretamente como jornalista, mas não exerce a função por questão de oportunidade de trabalho. “Acaba que não faço o que amo, mas me orgulho de ter conseguido o emprego devido ao meu diploma. Eu me formei em 2009, quando o STF derrubou a exigência do diploma. Acho que a faculdade é necessária, sim, para formar quem trabalha na imprensa e evitar tantos erros que vemos hoje”.

A questão do diploma tem relação com o sindicalismo, já que as entidades sindicais estão sendo obrigadas por lei a aceitarem a adesão de trabalhadores sem o certificado. Carolina Vaz, do Jornal O Cidadão, do Conjunto de Favelas da Maré, município do Rio de Janeiro, vê o tema do ponto de vista da desregulamentação geral das profissões. “Penso que querer a volta do diploma é tentar tapar o sol com peneira. Vivemos num tempo de precarização geral do trabalho e devemos lutar por conquistas para todas as categorias”.

Marcello Riella Benites, coordenador da pesquisa-ação, também participante do Coletivo, diz que o grupo aceita colegas com registro e/ou formação superior em jornalismo. “Acolhemos a todos e incentivamos não só aos sem diploma a fazerem graduação, como aos graduados a cursarem pós, mestrado, doutorado e assim por diante, para dar mais qualidade à informação e empoderar a categoria”. Ele acrescenta que a proposta, a partir desse encontro, é realizar ações de estímulo às adesões a coletivos, sindicatos e associações de jornalistas, comprometidos com a defesa da categoria.

Não jornalistas participam

O Enprojor é a pesquisa de campo da tese de doutorado de Benites, em andamento no Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), de Campos dos Goytacazes (RJ). A pesquisa prevê a participação não só de jornalistas, mas também de outros agentes da produção/consumo das informações jornalísticas, como fotógrafos, designers, estudantes de comunicação social, donos de veículos e público.

Isso parte da constatação que o jornalismo é um bem social e não deve ser reconstruído apenas por jornalistas, mas por todos que participam da circulação de notícias. Nesse sentido, foi importante a presença na reunião da médica Maria Christina Menezes, professora voluntária de Saúde do Trabalho da UFRJ. Por iniciativa própria, reconhecendo a importância dos jornalistas, ela atua com Auler na aproximação que a ABI vem buscando com colegas do Norte Fluminense. “Quem escreve a história é que faz a história”, justifica.

Maria Christina exemplifica, lembrando que as Comissões da Verdade e o Projeto Brasil Nunca Mais se basearam em registros jornalísticos para produzir os relatórios que fazem com que nunca esqueçamos, nem deixemos que se repitam os terrores da ditadura. Também compareceu Artur Gomes, poeta e produtor cultural de Campos. “As novas tecnologias multiplicaram as possibilidades de comunicação, mas geraram muitos conteúdos inadequados. Por isso, apoio os jornalistas na luta pelo diploma, para qualificar o que é divulgado nas mídias”.

Além da presença inédita de não jornalistas, a reunião pela primeira vez recebeu colegas de outras regiões, além do Rio, também de São Paulo e Brasília. A atividade é aberta a pessoas de todas as partes do país. O próximo encontro será em 19 de janeiro do ano que vem. Quem quiser comparecer, pode pedir o link pelo WhatsApp (22) 99832-9028.

Serviço

Evento: 7ª Reunião on-line do Projeto Enfrentamento da Crise da Profissão de Jornalista (Enprojor)

Data: 19/01/2024

Hora: 19h

Inscrições: (22) 99832-9028

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