Especialista revela e mães confirmam: crianças autistas progridem brincando

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Você sabia? Uma a cada 44 crianças com 8 anos de idade, tem autismo, de acordo com Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC). E segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 68 nascimentos, um é acometido pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com o objetivo de quebrar preconceitos acerca da síndrome, a Organização das Nações Unidas (ONU), promoveu abril como o mês de conscientização mundial sobre o autismo.

Para abordar o desenvolvimento motor, cognitivo e emocional das crianças com TEA, a neuropsicopedagoga, Letícia Mello, traz à tona a importância do brincar na primeira infância (até 6 anos) dos pequenos.

Há mais de 12 atuando na área da educação, Letícia conta que sentiu a necessidade de se especializar no tema, pois tinha alunos que não aprendiam e ela precisava saber como auxiliá-los em seu desenvolvimento. Hoje, a profissional é fundadora e CEO da clínica multidisciplinar ‘Transformar Letícia Mello’, especialistas em desenvolvimento infantil e autismo. “Todo pai e mãe ou responsável preza pela autonomia e independência da criança, eu e toda minha equipe nos preocupamos e buscamos formas de contribuir para esse desejo”, afirma.

Segundo a profissional, é por meio das brincadeiras e momentos de ludicidade que toda criança aprende a interpretar e a se desenvolver, se apropriando do conhecimento do mundo. Porém, as crianças com autismo podem ter mais dificuldades em compreender a brincadeira e até mesmo usar os brinquedos de uma forma “não convencional”, mas ainda assim é preciso ter paciência, amor e constância para brincar e estimular.

“É legal oportunizar brinquedos que estimulem o pensamento, a representação que é o brincar simbólico e funcional, como por exemplo loucinhas, brincar com itens de casinha. Bonecos, brinquedos com cores e formas”, exemplifica Letícia.

“Toda brincadeira vai estimular uma área em desenvolvimento. Então papais, mamães e responsáveis, saibam que 20 minutos do seu dia faz total diferença para a criança. Sem falar do vínculo de amor, de limites e regras que são estabelecidos durante a brincadeira, assim cada família pode educar também seu filho por meio dela”, instrui a neuropsicopedagoga.

Letícia também ressaltou que, crianças que se encontram dentro do espectro autista tendem a apresentar o hiperfoco (interesse intenso em objetos), então existem alguns brinquedos que eles acabam gostando mais, como carrinhos, dinossauros e jogos de encaixe.

Mães de crianças autistas contam suas experiências

Para exemplificar que, a base terapêutica do tratamento do autismo é focada no brincar com recursos lúdicos, as mães Marina Frouche, Daniela Souza, Irade Narcisa e Lorrayne Teixeira contam suas experiências com seus filhos diagnosticados com TEA.

Juan Gabriel, de 5 anos, é filho da Marina e iniciou a intervenção para o diagnóstico do autismo aos 10 meses, tendo fechado somente com 1 ano e 8 meses. Após ser identificado um grau elevado do TEA, e com intervenção precoce e intensiva de 38h semanais, hoje o autismo no Juan é considerado moderado e leve.

Juan virou garoto propaganda, inspiração e ‘case de sucesso’ da ONG fundada por sua mãe, o CEPIS – Centro de Estimulação Precoce e Integração Sensorial Juan Gabriel, que funciona como um braço de apoio do SUS, ajudando crianças que não têm plano de saúde.

Sobre os desafios enfrentados na maternidade de filhos autistas, Marina diz que enfrenta olhares de pessoas pensando que uma crise comportamental é falta de educação.

Sobre os desafios enfrentados na maternidade de filhos autistas, Marina diz que enfrenta olhares de pessoas pensando que uma crise comportamental é falta de educação.

Sobre as brincadeiras, Marina conta que, a criança com atraso, consegue uma chance de ter interesse por brinquedos de verdade, sendo necessário tirar de cena o tablet e celular. “Assim buscaremos mais contato visual dessa criança, depois a imitação e depois vem a fala. Não podemos esquecer que a intervenção precoce é fundamental por conta da neuroplasticidade. Uma vez que enrijecida perdemos a chance de que aquela criança seja um adulto funcional”, contou Marina, que se dedicou a estudar sobre o autismo pelo filho, por perceber a carência de pessoas especializadas em sua cidade (Macaé-RJ). Marina é formada nos métodos de intervenção do TEA: Denver, TEACCH, ABA, e em maio se formará em neuropsicopedagogia.

A mamãe do Davi Avelino (2 anos e 10 meses), Daniela de Souza, descobriu o autismo do filho, a partir de atrasos de desenvolvimento, que foram notados por especialistas que o acompanham desde que nasceu, incluindo o atraso na fala, alimentação seletiva, atraso ao engatinhar, hipotonia, e situações comportamentais repetitivas. “Foi um conjunto de situações, apesar do grau leve”, diz Daniela.

Para ela, a maior situação enfrentada é a falta de medicações na rede pública de saúde. “Nós já lidamos com muitas situações no nosso dia a dia, mas acredito que essa em específico, nos deixa com sentimento de impotência”, relata.

“Davi é uma criança carinhosa, inteligente, sensorial, que adora carrinhos e brincar ao ar livre, em contato com a natureza. Em casa sempre é estimulado, por meio de brincadeiras. Em geral, tem muita energia e muitas demandas. É uma criança que ama receber atenção”, afirma sua mãe.

Daniela conclui dizendo que, é muito importante a família acolher, além da escola, médicos, sociedade e terapias. “O ambiente familiar é de extrema importância para que a criança com TEA tenha uma melhor qualidade de vida”.

Bernardo tem 2 anos e 11 meses, e sua mãe, Irade Narcisa, descobriu o autismo de grau leve/moderado no pequeno há cerca de um ano e meio atrás. Para Narcisa, assim como a mamãe Marina relatou, o maior desafio é enfrentar o preconceito da sociedade.

“A parte mais difícil são os olhares julgadores. Pois, infelizmente eles ainda veem como birra da criança, e nos veem como pais que não sabem educar. Isso me incomoda muito, nossa luta é diária, e na maioria das vezes achamos que não estamos fazendo da melhor maneira”, desabafou.

Narcisa também contou que eles brincam muito entre família, e que Bernardo é agitado, gosta de falar e ama abraçar (somente crianças). “É o primeiro ano dele na escola, tem sido um desafio”, concluiu.

Já Lorrayne Teixeira, mãe da Alice, de 2 anos e 8 meses, descobriu o autismo da filha em janeiro deste ano, e conta que antes do diagnóstico, já havia pensado nas possibilidades de ser o TEA.

“Por ser um grau leve, confunde muito quem não tem o conhecimento do autismo. O motivo de levar a Alice ao neuro, foi o atraso na fala e logo na primeira consulta já recebemos o laudo. Ela foi diagnosticada com TEA sem deficiência intelectual e com comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional, o grau 1”, disse.

Para Lorrayne, que tem apenas 22 anos, o maior desafio como mãe, é a renúncia. “Quando nos tornamos mães, nosso instinto natural é renascer pelo bebê e a partir disso sua vida é ele. Mas, quando chega uma certa idade é natural que a criança se desenvolva e seja mais um pouco independente e para crianças autistas, não. Precisamos oferecer todo o nosso melhor, todo um estímulo, brincadeiras, aprendizagem. Nos doar por inteiro, para que isso aconteça (e às vezes nem acontece e tudo certo). E doar por inteiro é cansativo e doloroso. Com o diagnóstico eu renunciei o tempo que for preciso para o desenvolvimento dela, isso inclui trabalhos, cursos e chances de crescer profissionalmente”, pontuou.

Lorrayne costuma brincar com Alice, desde muito nova. Sempre buscou estimuladores e ensinava as coisas em casa. Hoje, Alice aprendeu tudo o que sabe com a mãe, como por exemplo: cores, formatos, números do 1 até 10, nomes de pessoas. Já sabe se comunicar quando quer fazer suas necessidades, quando está com fome ou quando está com dor etc. “A brincadeira foi essencial para o desenvolvimento dela, ela ainda não forma frases, mas só de ver ela chegando até aqui, me sinto mais viva e pronta para a próxima”, ressaltou a mãe.

“Ela é um amor de criança e também um alerta. Muitos pais com filhos autistas leves nem sabem que têm, por achar que é fase. Inclusive, muitas pessoas estão descobrindo o TEA depois de adultos. O que mais ouço é: ‘Será que ela tem autismo mesmo?’, ‘Procura outro médico!’… Já ouvi até que minha filha invalida o autismo em si, que eu não sei o que é sofrer com isso, por ela ser um grau leve quando fui conversar com outras mães de crianças autistas. Acredito que cada dor é única, mas não posso invalidar a do próximo. Eu também sofri com o diagnóstico e antes do laudo, mas isso não muda o fato dela ser minha filha, não posso e não devo ver o autismo como um fardo e sim uma consequência”, disse Lorrayne. Acrescentando que, “as pessoas demonizam o autismo desde muito tempo atrás e veem como se fosse só uma criança problemática. Minha filha olha no olho, socializa, brinca com todos, responde quando chamado, respeita quando ouve um não. Mas, também tem suas crises e birras de inquietação. Foi todo um processo de estímulos, luta e suor para chegar até aqui e ainda é muito sofrido. Mesmo que ela melhore ainda mais, isso não vai mudar o fato dela ser autista, pois o autismo não tem cura e só ela saberá das dificuldades que enfrentará no futuro”, concluiu.

Neuropsicopedagoga deixa mensagem de apoio aos pais e quebra de preconceito à sociedade acerca do Autismo

“Sei que ainda temos caminhos pela frente a ser enfrentado onde nossas crianças atípicas frequentem todos os lugares sem alguns olhares de julgamento. Saibam que jamais estarão sozinhos, nossa comunidade autista vem lutando pelos seus direitos e tenho certeza que juntos somos muito mais fortes. Vamos mostrar para todos que autismo é apenas uma forma diferente de ver o mundo e que eles têm muito para nos ensinar, pois somos humanos em processo de evolução. Que cada pai e cada mãe possa ter ainda mais forças para auxiliar seus filhos no desenvolvimento, que possam ter muita saúde para estarem ao lado deles nessa linda jornada”, declarou a profissional Letícia Mello.

A especialista também expressou seu desejo de que, nesse mês da consciência do TEA, o mundo tenha mais conhecimento do transtorno, que compreenda, respeite e inclua a criança com autismo e também sua família no convívio social.

“O cérebro de uma criança com autismo realmente funciona de uma forma diferente, porém em seu peito bate um coração como de qualquer ser humano. Deixo aqui o meu registro de total apoio a essa causa tão linda. E quem, porventura, ainda nunca tenha ouvido falar, que saiba que o autismo não é uma doença e sim um transtorno neurológico que altera a socialização e a comunicação verbal e não verbal da criança e que isso não a torna desigual perante aos olhos de Deus e da sociedade. Compreender, respeitar e incluir é isso que desejamos que seja feito para todas as crianças com autismo”, completou a neuropsicopedagoga.

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