“Era uma vez, num reino distante, uma linda princesa que se tornou rainha ainda jovem e foi a mais amada por todos os seus súditos. Durante muitos anos reinou com sabedoria.”
Esse poderia ter sido o início de um conto de crianças se não fosse uma realidade dos nossos tempos.
Minha geração já nasceu conhecendo Elizabeth II como rainha do Reino Unido. É como se ela fosse estar lá para sempre. Reinou por 70 anos e foi a monarca mais longeva da história do seu país. Conversando com algumas amigas descobri que elas, assim como eu, se emocionaram com a perda desse ícone e dessa referência. Acredito que o respeito e o amor que o povo dedicava a ela eram devidos a alguns fatores importantes. Um deles, era voltado ao seu papel de Chefe de Estado, democrata, que sempre recebeu com o mesmo acolhimento os primeiros-ministros de posições políticas inteiramente diferentes porque eles tinham sido eleitos pelo Parlamento. Ficou conhecida por seus esforços para modernizar a instituição da monarquia. Mas sua imagem pessoal é, inegavelmente, o que vai ser sempre lembrado – uma figura educada e gentil que impunha respeito só pela sua presença. Mesmo discreta, chamava muita atenção pelo estilo próprio e atemporal de se vestir. Usava broches e colar de pérolas, luvas, um sapatinho preto confortável e uma bolsa preta que parecia ser sempre a mesma (mas não era). Seus vestidos, paletós, chapéus e sombrinhas compunham looks monocromáticos de cores fortes e vibrantes. O objetivo era que ela pudesse ser vista no meio do público e, por esse motivo, também suas sombrinhas eram transparentes.
Mas, para além desse seu estilo pessoal que a tornava única, os mais chegados diziam que era dona de uma inteligência e um bom humor que faziam dela uma rainha muito cativante. Prova disso é a entrevista dada a uma repórter por um Richard Griffin, ex-guarda-costas real, que serviu à rainha por 14 anos e que transcrevo resumidamente. Segundo Griffin, ele acompanhava a rainha por um campo nos arredores do Castelo de Balmoral, na Escócia quando dois turistas dos EUA surgiram e puxaram assunto. Eles claramente não haviam reconhecido Elizabeth II e um deles perguntou à rainha: ‘Onde a senhora mora?’, e ela respondeu: ‘Em Londres, mas tenho uma casa de férias do outro lado da colina’. Quando soube que a senhora com quem estava conversando frequentava a região há mais de 80 anos, um dos turistas questionou se ela já não havia visto a rainha. “Num piscar de olhos, ela disse: ‘Eu não, mas Dick aqui sempre encontra com ela’”. Os dois turistas, o questionaram como era, afinal, a monarca: o segurança sentiu-se, então, à vontade para fazer uma piada. “Ela é às vezes muito birrenta, mas tem um senso de humor adorável”, respondeu. Um dos viajantes pegou uma máquina fotográfica e pediu a Elizabeth que tirasse uma foto deles com o homem que conhecia a rainha. Em seguida o próprio Griffin tirou uma foto dos turistas com a rainha. “Eu adoraria ser uma mosca na parede para ver quando ele mostrar essas fotos para amigos na América e alguém lhe contar quem eu sou”, concluiu Elizabeth II, após se despedir de seus mais novos amigos. Essa história retrata bem a elegância, a leveza e a inteligência de uma rainha admirável. Sua imagem pessoal sempre retratou sua essência. E sua essência tornou sua imagem pessoal ainda mais bela no auge de seus 96 anos.
Por esses motivos seus súditos e admiradores fizeram fila para poder vê-la e prestar homenagens pela última vez. O ex-jogador da seleção inglesa de futebol David Beckham esperou 12 horas na fila e relembrou o dia mais especial de sua vida quando recebeu da rainha a Ordem do Império Britânico.
O hino inglês será revisado. O conhecido GOD SAVE THE QUEEN (Deus Salve a Rainha) será modificado. Nos contos de fada, tanto nos mais antigos quanto nos mais recentes, princesas e rainhas são sempre as protagonistas. Os príncipes e reis são coadjuvantes. Dizem que no mundo real é diferente. Nesse caso, será que é mesmo? O tempo dirá.
GOD SAVE THE QUEEN !!!